Entenda
Como funciona o mercado de gás natural
A indústria de gás natural brasileira atravessa um momento decisivo da sua evolução, com a mudança do modelo monopolista para o concorrencial.
A previsão de forte crescimento da produção com o pré-sal cria grandes oportunidades para a modernização do mercado de gás no Brasil. O programa de desinvestimento da Petrobras no setor, iniciado em 2016, também contribui para isso.
O contexto de preços baixos do gás no mercado internacional, cada vez mais cria pressões para que a indústria de gás nacional se torne mais competitiva.
Na última década, houve crescimento da oferta no mercado exterior a preços competitivos, a partir da liberalização dos mercados de gás e do aumento da exploração dos recursos de gás não convencionais. No Brasil, o preço alto é fator de perda de competitividade da indústria.
Desde 2019, o governo federal tem implementado uma reforma estruturante, inicialmente, por meio de ações infralegais.
No mesmo ano, foi criado o programa Novo Mercado de Gás para, entre outras coisas, implementar instrumentos para a quebra do monopólio da Petrobras.
Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2029, da Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério de Minas e Energia, o governo prevê investir R$ 43 bilhões em infraestrutura até 2029.
Previsão de investimento em infraestrutura até 2029
Fonte: PDE/EPE
O governo estima que o Brasil dobrará sua produção em 10 anos, atingindo a marca de 260 milhões de m3/dia de gás natural até 2029.
No entanto, para que o país internalize essa riqueza, temos os desafios de abrir o mercado de gás natural a nível federal e estadual, reduzir os custos e aumentar a eficiência do setor.
O gás natural no Brasil tem preços altos, resultando numa baixa participação na matriz energética, o que representa um grande obstáculo para o crescimento da indústria nacional.
Em 2019, o setor industrial foi responsável pelo consumo de, aproximadamente 47% do total do mercado de gás natural (aproximadamente 38 MMm3 /dia).
Quando comparamos o preço final do gás vendido à indústria, a falta de competitividade do gás nacional fica ainda mais evidente.
Altos custos de transporte e distribuição também contribuem para elevar o preço final do gás.
Em 2019, o valor do gás foi em média US$ 14 por milhão de BTU, mais que o triplo da média de US$ 4,5 dos Estados Unidos e acima da média dos preços vigentes na Europa e no Japão.
A abertura do mercado de gás natural é vista como uma das grandes apostas para auxiliar na retomada do crescimento da indústria.
O gás mais competitivo vai impulsionar importantes setores da indústria como química, cerâmica, vidros, alumínio, siderurgia e pelotização, papel e celulose, com potencial para reindustrialização, a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, com o advento do shale gas.
A CNI realizou estudo para avaliar o efeito potencial de diferentes cenários de preço do gás natural para a evolução da produção, da balança comercial, dos investimentos e da demanda desse insumo para as indústrias.
O modelo levou em conta um cenário de crescimento do PIB nacional até 2030 de 3% ao ano no cenário de alta competitividade do gás; 2,8% ao ano no cenário de baixa competitividade do gás; e 2,5% no cenário de deterioração da competitividade.
O estudo levantou três cenários de preço:
1.
Alta competitividade do gás: preço para grandes consumidores industriais em US$ 7,00/MMBtu
2.
Baixa competitividade do gás: preço para grandes consumidores industriais em US$ 10,00/MMBtu
3.
Cenário atual: preço para grandes consumidores industriais em US$ 14,00/MMBtu.
Projeções
Balança comercial
No cenário 1 (US$ 7/MMBtu), o atual déficit na balança comercial das indústrias grandes consumidoras de energia poderia ser revertido, atingindo um superávit de US$ 41,6 bilhões em 2030.
Por outro lado, no cenário 3 (US$ 14/MMBtu), o déficit voltaria a se deteriorar com a recuperação econômica e poderia atingir cerca de US$ 47,8 bilhões de dólares.
Projeções
Investimento
No cenário 1 (US$ 7/MMBtu), os investimentos das indústrias poderiam atingir um valor de US$ 31 bilhões em 2030.
Já no cenário menos favorável, os investimentos seriam US$ 16 bilhões, ou seja, US$ 15 bilhões a menos que no melhor cenário.
Projeção da evolução dos investimentos das indústrias energointensivas* em diferentes cenários de preço do gás natural
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de ABIQUIM (2018), ABIVIRO (2019) IBÁ (2018), IBGE (2019), MIDIC (2019), MME (2018).
*Siderurgia, pelotização de minério de ferro, alumínio, química, cerâmica, vidro, papel e celulose.
Projeções
Substituição energética
O estudo também construiu cenários de substituição de outras fontes energéticas por gás natural. Esses cenários se basearam na avaliação dos preços relativos entre os energéticos e no potencial de substituição interenergética.
O gás competitivo poderá substituir 80% do carvão nas indústrias química e de papel e celulose e 50% na siderurgia.
Cenários de substituição de fontes energéticas por gás natural no período 2019-2030
Siderurgia | Vidro | Alumínio | Química | Papel e Celulose | Cerâmica | |
---|---|---|---|---|---|---|
US$ 7/MMBtu |
50% Carvão metalúrgico (finos) 80% Óleo Comb. 80% GLP |
100% Óleo Comb. |
50% Óleo Comb. 50% GLP 25% Coque Pet |
80% Carvão 80% Óleo Comb. 80% GLP 50% Coque Pet |
50% Carvão 25% Lenha 50% Óleo Comb. 50% GLP |
50% Lenha 25% Óleo Comb. 25% Coque Pet |
US$ 10/MMBtu |
80% Óleo Comb. 80% GLP |
100% Óleo Comb. |
25% Óleo Comb. 25% GLP 12,5% Coque Pet |
80% Óleo Comb. 80% GLP 80% GLP 25% Coque Pet |
12,5% Lenha 50% Óleo Comb. 50% GLP |
25% Lenha 50% Óleo Comb. 12,5% Coque Pet |
US$ 14/MMBtu |
50% Carvão metalúrgico (finos) 80% Óleo Comb. 80% GLP |
100% Óleo Comb. |
---- |
80% Óleo Comb. 80% GLP |
50% Óleo Comb. 50% GLP |
25% Óleo Comb. |
Fonte: Elaboração própria
Projeções
Demanda
A indústria brasileira com alto consumo de energia
tem potencial para se tornar uma grande consumidora
de gás natural.
No cenário 3 (US$ 14/ MMBtu), a demanda projetada para os setores analisados, em 2030, seria de aproximadamente 27,5 MMm³/dia, enquanto no cenário 1 (US$ 7/MMBtu), a demanda poderia atingir 62,2 MMm³/dia.
Projeção da evolução do consumo de gás natural das indústrias energo-intensivas em diferentes cenários de preço do combustível
Fonte: Elaboração própria a partir de dados de ABIQUIM (2018), ABIVIRO (2019) IBÁ (2018), IBGE (2019), MIDIC (2019), MME (2018).
Cadeia do Gás