InforMEI – Ranqueada como uma das dez primeiras empresas mais engajadas no ecossistema de inovação brasileiro, a BASF lidera iniciativas estratégicas de cocriação e programas de aceleração de startups. Na sua opinião, de que forma a inovação aberta impulsiona e influencia a cultura da inovação nas organizações?
Antonio Lacerda – Por meio da estratégia de conectar, experimentar e desenvolver tecnologias e da cocriação, as empresas incentivam e promovem a aproximação com ecossistemas, trazendo inovação e agilidade no desenvolvimento de soluções para os clientes nos mercados onde elas atuam. A BASF tem em seu DNA a colaboração e o desenvolvimento de conexões. A inovação é um tema transversal na BASF e sempre foi a chave para o sucesso, pois investimos fortemente na melhoria contínua e no desenvolvimento de soluções inovadoras, principalmente junto aos nossos clientes. Ao definir a inovação como um pilar estratégico, iniciamos uma intensa transformação cultural apoiada, sobretudo, nas necessidades dos clientes que estão no centro das nossas decisões. As iniciativas consistentes que implementamos têm promovido nosso propósito de sermos um celeiro de ideias e promotores da concretização delas como benefício à sociedade. Também incentivamos bastante o intraempreendedorismo.
Contamos com uma área responsável pela transformação digital, com estratégia definida para a mudança de cultura, estruturação e capacitação dos colaboradores, além de investimentos previstos em todas as principais divisões da empresa. Como exemplo, posso citar o Matrix - Manufacturing Training and Innovation Experience, um espaço criado em 2019, na fábrica de Guaratinguetá (SP), para promover a experiência de digitalização ao permitir que colaboradores, clientes e a comunidade vivenciem a digitalização nas operações da BASF por meio de tecnologias, desenvolvimento de soluções e treinamentos. De qualquer forma, não atuamos sozinhos, além do apoio da nossa matriz, contamos com parceiros na América do Sul para acelerar esse processo, colaborando para que o investimento seja mais assertivo.
InforMEI – O programa reciChain estimula a cocriação ao proporcionar o aumento da capacidade instalada de reciclagem de resíduos, em especial o plástico, e incentivar a economia circular. Quais os principais resultados desse programa até agora – que também possui como propósito a sustentabilidade por meio do uso de novas tecnologias?
Antonio Lacerda – Estamos na fase piloto do projeto, depois de mais de um ano de desenvolvimento da ferramenta. A implantação iniciou em março de 2021 em cooperativas de triagem do programa Cidade Mais do Instituto Recicleiros, uma organização sem fins lucrativos. O programa Cidade+ oferece suporte técnico para as municipalidades regulamentarem a coleta seletiva e executarem as etapas de coleta e transporte dos materiais recicláveis, com rastreabilidade de processo desde a origem, através de blockchain, considerando para tanto a inclusão socioprodutiva de catadoras e catadores de materiais recicláveis. A partir do segundo semestre de 2021, outros programas estruturantes serão incluídos a fim de permitir investimentos para estruturar soluções de triagem de recicláveis e validar o processo da plataforma para ‘tokenização’ de adicionalidade, considerando a responsabilidade de inclusão social e em consonância com a legislação vigente.
Além do reciChain, que é a mais relevante iniciativa circular aqui na região, há na BASF outras frentes de promoção da economia circular. Temos um edital global que disponibiliza 5 milhões de euros para projetos de colaboradores que fomentem iniciativas circulares, e já inscrevemos alguns projetos da América do Sul neste edital. Lançamos também, por exemplo, o B-Cycle, uma plataforma de soluções BASF para alavancar a economia circular da cadeia de plásticos. B-Cycle surge com o propósito de oferecer soluções para resolver os maiores desafios do processo de reciclagem mecânica do plástico. Inclui um portfólio completo para as diferentes etapas do processo de reciclagem, desde a lavagem até a extrusão, contribuindo para garantir a qualidade e preservar as características do material plástico reciclado. Dessa maneira, é possível o design de produtos de alto valor agregado mesmo com resina reciclada.
InforMEI – Em outra frente, a plataforma de inovação e empreendedorismo AgroStart atrai startups focadas em soluções para o agronegócio, e conta com investimentos da BASF Venture Capital para soluções em foodtech e agtech. Que tipos de solução a BASF busca nessas áreas, considerando, por exemplo, o aumento exponencial da população global?
Antonio Lacerda – Enquanto a população mundial e suas demandas continuam crescendo, os recursos do planeta são limitados. A química é um facilitador para fornecer soluções para as necessidades sociais atuais e futuras. A BASF tem em seu DNA a colaboração e o desenvolvimento de conexões. Aqui no Brasil, intensificamos essas parcerias no agronegócio e, em 2016, lançamos uma plataforma pioneira em aceleração de startups no setor. O AgroStart já contou com a interação de mais de 500 startups espalhadas por 10 países da América Latina. O objetivo do Agrostart é criar soluções e tecnologias para uma agricultura mais sustentável. A ideia é incentivar que empreendedores de toda a região apresentem iniciativas que englobem toda a cadeia do agronegócio, desde produtores e distribuidores até outros profissionais do setor. As empresas interessadas devem apresentar propostas que aumentem a competitividade do agronegócio e auxiliem a cadeia agrícola em pelo menos um dos cinco desafios: agricultura de precisão, automação, gestão de estoques, gerenciamento de safra e rastreabilidade. A aplicação de insumos com o uso de drones, sistemas de monitoramento climático, ferramentas de gestão, até detecção de pragas e doenças são alguns exemplos de ações já aceleradas pelo programa AgroStart.
Além da aceleração de startups, o AgroStart tornou-se uma plataforma com mais frentes de trabalho: foco no intraempreendedorismo. Passa a acelerar ideias internas de colaboradores da BASF dentro da Garagem AgroStart, utilizando a mesma metodologia das startups; ampliação do Ecossistema AgroStart, lançado em 2019, aumentando as parcerias com empresas de outros setores.
Vale destacar que, apoiando o ecossistema, a BASF Venture Capital fez investimento de 4 milhões de dólares em um fundo de AgVentures em 2019 gerido pela SP Ventures e focado exclusivamente em Startups latino-americanas do setor agro e de alimentos.
InforMEI – Por meio do Centro de Experiências Científicas e Digitais, o onono, a BASF também busca soluções digitais para simplificar e digitalizar a rotina do seu departamento jurídico. Que tipos de soluções já foram identificadas e qual a importância para a empresa em ampliar o universo colaborativo ao se conectar a startups em tantas frentes?
Antonio Lacerda – As iniciativas que estão sendo promovidas no onono, além de desenvolver o ecossistema digital de inovação, têm sido muito importantes para fomentar a cultura de inovação e colaboração na empresa e nos nossos clientes e parceiros. O onono funciona como um hub de inovação na BASF. Foi projetado para responder de maneira ágil às demandas do mercado, permitindo a conectividade, digitalização de processos e cocriação. E tem sido um grande sucesso! Comemoramos, no ano passado o título de TOP 1 Corporate no segmento da Indústria Química em inovação aberta no ranking da plataforma 100 Open Startups – e a sexta colocada no ranking geral da publicação que avalia o engajamento de grandes empresas no ecossistema de inovação brasileiro. Iniciativas de cocriação e programas de aceleração de startups contribuíram para esse desempenho positivo.
Criamos a Central de Startups com o apoio da AEVO (desenvolvedor da ferramenta) e com a colaboração da equipe do onono. A plataforma forma uma base consolidada para lançar desafios com clientes e se conectar de forma mais transparente com as startups. Atualmente já conta com mais de 40 clientes rodando e uma base de 10 mil startups. Um dos projetos recentes que rodou dentro da Central de Startups do onono foi o desafio com a Mercedes, em parceria com o ecossistema do Agrostart (programa de aceleração para agtechs, empreendedorismo – GarageAgro) e ecossistema de inovação. A iniciativa buscou encontrar soluções para mobilidade agrícola em áreas como robótica/mobilidade, sensores/IoT, conectividade, gerenciamento da lavoura com o uso de telemetria e smart farming. Ao todo, 57 startups se inscreveram.
Também temos o Programa Universidades, com projetos em parceria com universidades, como diz o nome. Já houve parcerias com ESPM, a Empresa Júnior do Mackenzie e este ano, com a FIAP (Faculdade de Informática e Administração Paulista). A Empresa Junior Mackenzie, por exemplo, foi responsável pela criação e implementação da calculadora de emissões sustenBOT, lançada pela Fundação Espaço ECO em 2020. A ferramenta gratuita permite que as empresas identifiquem o seu grau de sustentabilidade. No início do ano, os alunos do curso de Tecnologia em Inteligência Artificial da Fiap foram desafiados a resolver problemas e buscar insights nas áreas de frete, logística e supply chain por meio de machine learning, deep learning e outras técnicas. A nossa operação envolve vários milhões de reais por ano em pagamento de fretes, dezenas de fornecedores, mais de 1.500 clientes espalhados por todo Brasil e mais de 15 mil km rodados por ano – isso relativo a transporte rodoviário das fábricas de Guaratinguetá, Jacareí e Camaçari. Toda a operação reflete uma complexidade onde as novas tecnologias têm bastante oportunidade para contribuir. Os três melhores projetos serão premiados.
InforMEI – Há cerca de um ano, a CNI firmou parceria inédita com a israelense SOSA, que oferece às indústrias instaladas no Brasil oportunidades de acessar tecnologias de ponta para resolver desafios com maior rapidez, por meio da inovação aberta. De forma geral, quais os principais benefícios e oportunidades identificados pela BASF proporcionados por esse tipo de inovação colaborativa usada como estratégia de competitividade?
Antonio Lacerda – Esse tipo de parceria ajuda a estreitar o relacionamento com outros mercados, ter acesso às tecnologias e inovações de outros setores que também investem em pesquisa e inovação. Isso só fortalece a nossa indústria e vai ao encontro do propósito da BASF que é criar química para um futuro sustentável.
É parte da nossa essência, como indústria química, inovar em diversas frentes para atender e antecipar as demandas dos nossos clientes que, hoje, também cocriam conosco. A inovação é um tema transversal na BASF e sempre foi a chave para o sucesso, pois investimos fortemente na melhoria contínua e no desenvolvimento de soluções inovadoras. Investimentos em ferramentas digitais contribuíram para que conquistássemos a liderança do setor químico.
Seguimos trabalhando para nos manter líder em transformação digital e, ao definir a inovação com um pilar estratégico, iniciamos uma intensa transformação cultural apoiada, sobretudo, nas necessidades dos clientes que estão no centro das nossas decisões. No segundo semestre de 2017, por exemplo, nossa equipe na América do Sul implementava tecnologias como realidade aumentada e também foi responsável por iniciar um plano de maturação digital em todos os nossos sites para saber quais aplicações deveriam ser realizadas.
A partir dessa análise foi possível gerar diagnósticos e identificar as principais demandas e oportunidades para testar novas tecnologias dentro da empresa. A BASF entende que o processo da indústria 4.0 está transformando os locais de trabalho. Os escopos e responsabilidades de colaboradores estão mudando e, portanto, demandando que a empresa invista constantemente em treinamento e capacitação dos colaboradores. Exploramos ainda o Big Data com inteligência artificial com o objetivo de encontrar novas oportunidades de mercado junto aos nossos clientes e, assim, antecipar as demandas futuras.
InforMEI – A crise causada pela pandemia impôs desafios, mas, ao mesmo tempo, criou oportunidades de aplicação de novas tecnologias e soluções, tanto de processos, quanto de produtos. Por que investir em inovação em meio a uma crise dessas proporções deve ser visto como estratégia de retomada de crescimento e de competitividade?
Antonio Lacerda – A pandemia, de fato, acelerou a digitalização do mercado de uma maneira geral. E a inovação, que já era uma prática da BASF, foi ainda mais vital nesse período, ganhando agilidade para ajudar os nossos clientes e a sociedade. A indústria química teve e tem um papel fundamental neste momento de crise. Além de garantir o bem-estar dos colaboradores, voltamos nossos esforços para atender as demandas dos nossos clientes, muitos deles ligados a serviços declarados como essenciais, e o feedback tem sido excelente.
O impacto da pandemia não foi o mesmo para todos os setores, assim como a retomada deve ter dinâmicas diferentes. As indústrias de nutrição e saúde, limpeza doméstica e industrial e higiene pessoal, por exemplo, tiveram crescimento na demanda, por serem responsáveis por produtos diretamente ligados ao enfrentamento do coronavírus. As pessoas fazem mais refeições em casa, buscam aumentar a imunidade com alimentação adequada e suplementação e adotam mais hábitos de higiene.
É justamente em períodos como este que conseguimos compreender o quão importante se tornou a digitalização, que já havíamos iniciado há anos na BASF, e que deu a agilidade que precisávamos para adaptar e manter a operação com mais pessoas em home office, sem perder a capacidade de inovar que é parte do nosso dia a dia. Além disso, não paramos de investir em ações de responsabilidade social, ampliando nossas doações com o apoio de colaboradores e parceiros via plataformas colaborativas. Um bom exemplo sobre como a inovação nos ajudou a apoiar a sociedade nesse momento desafiador foi a transferência de tecnologia para internalização da produção no Brasil, em menos de quatro semanas, do espessante Luviset 360, que transforma álcool líquido em álcool gel. O insumo estava em falta no mercado. Além disso, a Suvinil, nossa marca de tintas decorativas, também adaptou parte de sua linha de produção, localizada em São Bernardo do Campo, interior de São Paulo, para fabricar toneladas de álcool gel para doação a unidades de saúde públicas brasileiras.
InforMEI – Do ponto de vista de alguém que participa ativamente da MEI, de que forma o trabalho da Mobilização pode ampliar sua contribuição para o fortalecimento do ecossistema de inovação brasileiro, ampliando parcerias e estimulando, cada vez mais, os investimentos em PD&I?
Antonio Lacerda – Os fóruns de discussão promovidos pela MEI, em especial os Diálogos de Inovação da MEI, têm papel fundamental para a criação de um ambiente de discussão das políticas e planos de apoio ao desenvolvimento da inovação tecnológica na indústria.
Podemos destacar também a coordenação do Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria e participação na equipe de coordenação do Índice Global de Inovação, ferramenta importante para acompanhar os desdobramentos, impactos e pontos de melhoria para o aprimoramento dos mecanismos para melhorar a nossa posição no ranking, atualmente em 62ª posição (ranking 2020). Também as ações como o Prêmio Nacional de Inovação da indústria, do qual a BASF foi reconhecida em 1º lugar na categoria Gestão de Inovação Grande Empresa em 2019. Com o resultado, pudemos também vivenciar os programas de imersão nos ecossistemas de tecnologia e inovação promovidos pela MEI com hubs de excelência.