InforMEI – Considerando as constantes transformações tecnológicas, torna-se cada vez mais urgente que países tenham ecossistemas de inovação robustos para enfrentar os desafios globais. Quais fatores você destacaria como essenciais para fortalecermos o ecossistema brasileiro de inovação no sentido de criarmos oportunidades de retomada de crescimento e estarmos mais bem preparados para o enfrentamento de crises como a atual, causada pelo novo coronavírus?
Ricardo Pelegrini – O mundo está passando por um momento único, onde nunca tivemos tantas tecnologias disruptivas disponíveis ao mesmo tempo. Estamos falando de inteligência artificial, IoT, advanced analytics, realidade virtual, realidade aumentada, robótica, blockchain, etc. Diferentemente do que acontecia no passado, todas estas tecnologias estão disponíveis em todos os países ao mesmo tempo. Esta é a boa notícia. A má notícia é que, apesar disso, estamos muito atrasados em inovação, como apontado pelo último Índice Global de Inovação, onde ocupamos a 66ª posição mundial. O Brasil precisa definir, como vários países fizeram, quais são as áreas estratégicas para foco e investimento e, então, criar planos concretos para execução no curto, médio e longo prazo. Um exemplo disso, e que pudemos presenciar em uma das Imersões que fizemos com a MEI, é a China. Em nossas visitas a várias entidades com participação do governo chinês, bem como nas empresas privadas chinesas que nos receberam, havia um alinhamento de que inteligência artificial e 5G são as pautas prioritárias do país e vários programas têm sido criados para alavancar estas áreas, tanto no setor público, como no privado.
InforMEI – A pandemia obrigou as empresas a repensar modelos de negócio, relações de consumo e, também, a recorrer a tecnologias que pudessem contornar o problema e dirimir perdas. Como a nova realidade que nos foi imposta irá afetar o futuro do setor produtivo em nível nacional e global?
Ricardo Pelegrini – A pandemia trouxe impactos importantes a vários segmentos de indústria e empresas de todos os tamanhos. Para sobreviver, muitas delas tiveram que se reinventar ou mudar rapidamente para se adaptar. Várias empresas declararam que tiveram que fazer mudanças que demorariam meses em dias. A última pesquisa encomendada pela CNI com mais de 400 empresas industriais, por exemplo, reforçou isso. Aproximadamente, 70% das empresas disseram que foram afetadas nas vendas, cadeia de fornecedores, produção, relação com os trabalhadores e logística. Desse universo, 40% implementaram "mudanças inovadoras" – na gestão, em novas formas de chegar aos clientes, melhorias no seu processo produtivo, aplicações de tecnologias na logística, etc. Assim, ainda que muitas empresas tenham acelerado seu processo de inovação para não sucumbir em tempos de pandemia, a experiência foi muito positiva e aumentou a consciência das empresas de que inovar não é opcional e gera resultados práticos.
InforMEI – Na sua opinião, como e quais tecnologias mais urgentes deverão despontar a partir das mudanças e adaptações pelas quais estamos passando?
Ricardo Pelegrini – Acredito que muitas das “novas” tecnologias que comentei anteriormente terão sua adoção acelerada. Cada segmento de indústria tem demandas especificas. Mas, de forma geral, uma das tecnologias que mais tem sido mencionada como foco de experimentação ou investimento nas empresas é a inteligência artificial. Esta é uma tecnologia que, de um lado, tem recebido enorme investimento das principais empresas globais de tecnologia que vislumbram um mercado estimado em US$ 125 bilhões em 2025. Do outro lado, as empresas estão cada vez mais aprendendo o poder da aplicação destas tecnologias e, assim, a demanda certamente crescerá muito.
InforMEI – A Quantum4 carrega a inovação em seu DNA, com foco em resultados. Que medidas foram tomadas e que oportunidades de se reinventar surgiram na Quantum4 em função do contexto atual?
Ricardo Pelegrini – Criamos a Quantum4 com um claro propósito – de ajudar as empresas a inovar mais e mais rápido para atingirmos os benefícios advindos da inovação – termos um país mais produtivo, mais competitivo e com isso criarmos um país melhor. Assim, o que vimos desde o início da pandemia é que muitas empresas entenderam que não estavam prontas, que não tinham planos estruturados de como se transformar em empresas mais inovadoras. Este sentimento se comprovou com o resultado da última pesquisa já mencionada, onde 83% das empresas responderam que necessitam inovar mais para crescer ou sobreviver no mercado e 88% das empresas responderam que têm interesse em saber mais sobre inovação. Nossa abordagem, neste período de pandemia, tem sido demonstrar junto às empresas como nossas metodologias podem ajudá-las nesta transformação com modelos ágeis de gestão, aplicações de tecnologias, parceria com ecossistemas, processos e, claro, o engajamento das pessoas.
InforMEI – A cultura da inovação nas empresas está diretamente ligada à tomada de decisão e, consequentemente, ao grau da qualidade de informação e de conhecimento por parte de CEOs e executivos. Como o trabalho desenvolvido pela MEI contribui nesse sentido?
Ricardo Pelegrini – Sabemos que os CEOs e C-level em geral são chave para liderarem ou suportarem as transformações nas empresas, já que grande parte das mudanças dependerão do engajamento, aprovações e suporte deles. Neste sentido, a MEI tem um papel muito importante como canal ativo deste processo de ajudar as empresas a debater, entender e se engajar nas transformações em curso. O compartilhamento de novas tecnologias, novos processos de gestão da inovação, imersões internacionais e no Brasil em ecossistemas de inovação e melhores práticas globais de inovação são alguns exemplos das pautas da MEI para ajudar as empresas e inspirar os executivos a acelerar as transformações tão necessárias ao Brasil.
InforMEI – No dia 1º de julho, a CNI fez o lançamento de parceria inédita com o SOSA – plataforma global israelense – que oferecerá às indústrias brasileiras a oportunidade de acessar tecnologia de ponta e responder a desafios com maior rapidez, além de projetar startups brasileiras ao mercado global. De que forma a inovação aberta, que está no cerne da parceria CNI-SOSA, pode contribuir para a dinâmica do nosso ecossistema de inovação?
Ricardo Pelegrini – Aliado às transformações tecnológicas, uma outra importante dimensão de mudanças globais veio com a explosão das startups e como os ecossistemas se formaram ao redor deste fenômeno. O Brasil vem acordando para o valor advindo desta conexão, mas ainda estamos muito atrasados. A última pesquisa sobre inovação encomendada pela CNI demonstra que apenas 10% das empresas entrevistadas têm algum tipo de parceria com startups. Do outro lado, 64% das empresas disseram que querem saber mais sobre startups e como trabalhar com elas. Assim, ajudar as empresas brasileiras na conexão com ecossistemas de inovação ao redor das startups é uma demanda real e urgente para o Brasil. Considerando isso, a anunciada parceria CNI-SOSA é super estratégica para acelerar a conexão das empresas com um ecossistema que conta com mais de 15 mil startups do mundo todo e tem ajudado muitas empresas globais a se conectar e extrair valor destes ecossistemas. Adicionalmente, abre a possibilidade de que startups brasileiras possam fazer parte deste ecossistema e com isso ganhar visibilidade e escala global.
InforMEI – Levando-se em conta o crescimento exponencial da população e, consequentemente, dos desafios do mundo moderno, bem como o advento da computação quântica e do aprimoramento de tecnologias como inteligência artificial, automação de processos robóticos, 5G, IoT e edge computing, o que podemos esperar desse futuro nem tão distante?
Ricardo Pelegrini – Estamos vivendo uma transformação tecnológica onde muitas tecnologias já estão disponíveis para serem aplicadas. É fundamental, do ponto de vista de negócios, que as empresas entendam esta transformação, olhem para seus clientes e para o mercado e avaliem como poderão ajudar a resolver problemas reais enfrentados. A percepção de alguns líderes de que esta revolução esteja “chegando” é muito perigosa pois ela está em curso, com vários casos práticos de aplicação nos negócios de tecnologias como inteligência artificial, IoT, analytics, robótica e outras com excelentes resultados. Por isso, acredito que a evolução tecnológica que temos visto nos últimos anos continuará acelerando, principalmente com a chegada das novas gerações, cada vez mais digitais.